A professora Sílvia Amélia Bim, docente no Departamento Acadêmico de Informática (DAINF) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), também coordenadora do programa Meninas Digitais por durante oito anos, esteve numa conversa com a equipe CodificADAs para falar sobre seu livro “Ada Lovelace, A Condessa Curiosa”, suas experiências nesse universo de trazer meninas para a área da Computação e deixar uma mensagem para nossas alunas do curso Introdução à Programação em Scratch.
Por que trabalhar nesse universo de trazer meninas para a área da Computação
Criado em 2011, Meninas Digitais surgiu a partir de discussões no Women in Information Technology (WIT), evento base do Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC). Hoje, com mais de 100 projetos parceiros espalhados por todas as regiões do Brasil, o programa tem como propósito despertar o interesse de meninas a seguirem carreiras associadas à Tecnologia da Informação e Comunicação e mostrar que, por meio de políticas de incentivo e formas de engajamento, a área tem inúmeros caminhos de atuação.
“Se a gente pensar na área de Direito você pode atuar no Direito Familiar, Direito Trabalhista, Direito Ambiental… Se pensar em Medicina, você tem inúmeras possibilidades para seguir. A Computação não é diferente, temos muitos caminhos a percorrer. Essa é a ideia: mostrar que com a Computação a gente tem possibilidade de melhorar a vida das pessoas, com conhecimento técnico, ético.”, disse. “Além disso, temos muitas oportunidades de trabalho e essas oportunidades são cada vez mais numerosas”
Ainda assim, apenas 25% da força de trabalho da indústria digital no mundo e 17% dos programadores no Brasil são mulheres (segundo ONU Mulheres (2018)). Para a professora, a diversidade na área da Computação é necessária e importante para trazer inovação, criatividade e mais possibilidades de dialogar com todo mundo.
“Se a Computação está em toda a sociedade e toda ela utiliza essas soluções tecnológicas, então precisamos de um grupo diversificado de pessoas pensando nessas soluções”, disse. “Se temos apenas um grupo que tem a mesma bagagem cultural e social, esse grupo vai pensar em soluções que estejam próximas a ele, trazendo diversidade, cada um vai ter um ponto de vista. ”
Sobre o livro Ada Lovalace – A Condessa Curiosa
A ideia para o livro sobre a história de Ada Lovelace contado para crianças surgiu nas ações do Programa Meninas Digitais. A professora Sílvia percebeu que era preciso compartilhar mais sobre quem são as mulheres que vem contribuindo na área de Computação e Ciências ao longo dos anos. “Nós temos inúmeras histórias para contar, a Ada Lovelace é uma delas”, disse.
“A Ada era de uma família importante na Inglaterra. Teve acesso aos estudos numa época em que as mulheres não podiam ir para escolas. Ela foi educada em casa e por ter esses privilégios teve contato com pessoas muito importantes, entre eles o Charles Babbage que era empreendedor e inventor. O Charles propôs uma máquina que hoje a gente considera o primeiro modelo de computador do mundo e a Ada escreveu um algoritmo que poderia ser processado por essa máquina, explicando todo o potencial e todas as possibilidades.”
Ela fala que a Ada era muito criativa e tinha amplos conhecimentos em diversas disciplinas. Com isso, ela conseguiu, naquela época, entre 1930 e 1940, vislumbrar as possibilidades do computador, mostrando que a máquina processava coisas além de números, como imagens, música, artes, etc.
“Por isso, em homenagem a ela, desde 2009 temos uma comemoração mundial que acontece na segunda terça-feira do mês de outubro chamada de Ada Lovelace Day, para celebrar as conquistas das mulheres em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Em 2021 essa data caiu no dia 12 de outubro.”
Sobre o processo de escrever um livro infantil, a professora Silva conta que foi uma experiência riquíssima dialogar com um outro público e que fez muita pesquisa em livros infantis publicados na língua inglesa. “Eu tenho dez livros que foram publicados a partir de 2015 sobre ela, li muito para tentar pegar qual era o “tom”, disse. “Foi uma experiência interessante porque precisei exercitar a minha habilidade de abstração, que é uma habilidade super importante dentro da computação, mas num processo inverso. É um nível de abstração que me fizesse escolher palavras, termos e um tom que dialogasse com crianças e adolescentes. Foi muito interessante o feedback, pessoas de 8 a 80 gostaram desse exercício!”
Ela ressalta também que quem já está na Computação não tenha medo desses exercícios abstração, pois é um exercício que já se pratica diariamente dentro da área.
Mensagem da autora para as alunas CodificADAs
“O que quero dizer é que a programação é um exercício de interpretação.
A gente vai olhar para o mundo, para um enunciado e vai ter que traduzir isso para uma linguagem de programação, que tem suas regras. Então, a gente vai estar sempre interpretando e colocando em regras, organizando o nosso pensamento para dialogar com o computador e que ele faça algo que a gente queira.
E o que é que a gente quer?
Cada uma de vocês tem uma experiência de vida e tem uma demanda: já pode ter presenciado alguém da sua família interagindo com a tecnologia e tendo alguma dificuldade ou tendo alguma idéia. Então, olhe para o mundo, perceba o que o mundo tá precisando, depois venha traduzir isso para uma linguagem de programação. Assim, o seu programa pode melhorar a vida de outras pessoas.
Existem inúmeras possibilidades. Eu tenho certeza que vocês vão trazer muitas ideias para tornar a computação cada vez uma área mais de respeito pelas pessoas e pela sociedade.”
E só pé menina não acho onde fazer o cadastro